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Motivação vs Compulsão

Sofia Figueiredo

Atualizado: 2 de mar. de 2022


Por que é que realizamos certas ações com facilidade, simplicidade e graciosidade, enquanto noutras ações temos uma sensação de inquietação e resistência o tempo todo? Por vezes, precisamos de quantidades gigantescas de força de vontade, de esforço e de sentimentos miseráveis para alcançarmos algo, ou para mal o conseguirmos, apesar dos nossos esforços. Noutras alturas, nem sequer podemos começar a fazer o que pretendíamos porque nos falta vitalidade.

Cada vez que fazemos uma ação, há muita coisa a acontecer no nosso sistema nervoso. Para cada ação que executamos precisamos de um motivo, que irá desencadear uma série de sinais elétricos e químicos através dos circuitos nervosos até que, finalmente, cheguem aos músculos que executam a ação. Estes motivos são, geralmente, uma resposta a algum tipo de tensão que precisamos de liberar. Bebemos porque temos sede, coçamos porque temos comichão, etc…


As nossas ações têm circuitos diferentes no sistema nervoso. Como seres humanos, herdamos uma série de ações reflexas que são automáticas. Não precisamos de estar conscientemente motivados para fazê-las, porque elas são desenhadas pela evolução para nos proteger e garantir a continuidade da espécie. Para isso, os seus circuitos são mais curtos, de forma a atingirem os músculos quase instantaneamente.


No entanto, nós temos menos atos instintivos do que o resto do reino animal. Em comparação com outras espécies, a maioria das nossas ações são fruto de um longo período de aprendizagem e dependência. Depois, o que aprendemos torna-se habitual, o que significa que, tal como as ações reflexas, os hábitos têm um circuito nervoso menor, para chegar aos músculos rapidamente e quase sem estarmos conscientes disso. A maioria dessas respostas rápidas são moldadas pela nossa educação e o ambiente em que crescemos e não são, realmente, uma escolha consciente.


Então, quando queremos agir de forma diferente, precisamos de ter uma motivação suficientemente forte para superar essas respostas habituais. Como a ação não é familiar, o que significa que ainda não foi aprendida, os sinais eletroquímicos antes de chegarem aos músculos, passam por circuitos nervosos muito mais longos do que no caso das respostas habituais, que viajam mais rapidamente.

Isto gera sinais contraditórios, que podemos também chamar de motivações cruzadas, e que provocam em nós, aquele sentimento de resistência e a necessidade de fazer esforço para completar a nova ação pretendida.


Motivações cruzadas são também características das ações compulsivas. Quando uma ação não consegue aliviar uma tensão interior é porque a pessoa está a lutar contra motivos que se contradizem, sem nunca estar satisfeita mas continuando a repetir o mesmo padrão. "A ação não é específica daquela tensão e nunca a alivia totalmente. Alguma tensão permanece sempre, obrigando a um novo impulso para a ação.”


É possível alcançar certas coisas na vida através de teimosia e compulsão interior, muitas vezes, porém, chegamos lá dormentes pelo esforço constante e no caminho comprometemos a nossa vitalidade e alegria de viver. Uma ação graciosa e bem executada é também fácil, não precisa de esforço para ter sucesso, porque tem uma motivação única e clara. Quando aprendemos algo bem não só criamos novos circuitos neurológicos mas também praticamos como inibir, o que Feldenkrais chamou "ações parasitárias", que se activam por si próprias, por serem habituais mas não intencionais. Tornamo-nos “...gestores mais competentes de motivação, pondo de lado tudo aquilo que dificulta a motivação positiva, que assim, se destaca claramente. A ação resultante é sem hesitação, sem resistência.”



Obrigada pela tua atenção. Espero encontrar-te na próxima aula.


Calorosamente,

Sofia


Referência bibliográfica: “The Potent Self: a study of compulsion and spontaneity”,

by Moshe Feldenkrais, San Francisco, 1985.




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