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Corrigir é Incorreto


“A cada estado emocional corresponde um padrão pessoal condicionado, de contração muscular, sem o qual não existe.” — Moshe Feldenkrais



O mês passado esta newsletter terminava com a ideia de que a postura não pode ser corrigida mas apenas melhorada. Em Feldenkrais, costumamos dizer que “corrigir é incorreto" - o que podes entender bem porquê, se já alguma vez tentaste corrigir a tua própria postura. Quando tomamos emprestada alguma opinião sobre o que é uma boa postura e depois tentamos corrigir-nos de acordo, geralmente, isso acaba só em frustração e auto-crítica negativa.

Podemos, voluntariamente, mudar a aparência do corpo mas, para isso, precisamos de fazer contrações compensatórias. Mesmo que, aparentemente, tenha mudado a minha postura, foi somente à custa de ter criado tensões noutras partes de mim. Pois “cada correção desencadeia uma cadeia de reações inevitáveis ​​em diferentes áreas do corpo” (Ruthy Alon). De tal forma, que a correção parece artificial e só é mantida por meio de uma vigilância constante que, por sua vez, compromete tanto a minha espontaneidade quanto a minha vitalidade.

Eventualmente, “através de uma constante vigilância e auto-lembrança, aprendemos a manter duas contrações conflituosas. O resultado é a exclusão de movimento nessas partes onde, conscientemente, nos focamos, rigidez e tensão muscular, interrupção da respiração e por aí fora. A longo prazo, o padrão torna-se habitual, semi-automático e familiar, a ponto de ser considerado como a nossa própria natureza, mas apenas à custa de tensão e exaustão nervosa.” (Feldenkrais)


Além disso, é muito difícil corrigir a postura sem parecer pretensioso, porque os nossos padrões musculares espelham os nossos estados emocionais e o corpo projeta, inocentemente, aquilo que tentamos esconder. Segundo Feldenkrais, somente uma pessoa com maturidade é capaz de dissociar as emoções dos padrões corporais, assim, ele defende que “a postura correta é uma questão de crescimento emocional e aprendizagem”.

Da mesma maneira que em criança, eu aprendi a andar, a falar e a usar a colher… para adquirir uma melhor postura quando adulto, eu preciso de investir tempo num processo de aprendizagem semelhante. Uma reeducação que não é alcançada com força de vontade, através de exercício ou de repetições mecânicas dalguma atitude desejada mas sim, através de um processo sensorial, de exploração de uma infinidade de relações possíveis, entre mim e o ambiente do qual faço parte. Até que eu consiga sentir uma relação significativa, ou seja, até que eu seja capaz de reconhecer configurações que são relevantes para mim, no sentido que integrem o meu corpo/mente/ambiente de uma forma fácil e bem coordenada.

Parte do que fazemos nas aulas de Feldenkrais® é praticar a tomar atenção e a reconhecer certas sensações que nos indicam, qualquer que seja a ação, como “pensar, falar, comer, respirar, resolver problemas, desenhar ou lutar”, quando foi uma ação bem coordenada. Tal reconhecimento é essencial para pararmos de criar conflitos internos, ao impormos aos nossos próprios comportamentos e atitudes, modelos e opiniões alheias. Em vez disso, através de uma aprendizagem experiencial, sermos capaz de expandir a nossa auto-imagem a partir de dentro.


Obrigada pela tua atenção. Espero encontrar-te na próxima aula.


Calorosamente,

Sofia

References:

ALON, Ruth, "Mindful Spontaneity", 1990

FELDENKRAIS, Moshe, “The Potent Self”, 1985





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